Preocupante escalada do racismo leva movimentos sociais de volta às ruas na França. Extrema-direita usa imigrantes e ministra negra como bode expiatório e tenta colher dividendos políticos em um país afundado numa longa crise.
*por Gauthier Berthélemy
Várias associações e movimentos anti-racismo convocaram uma grande marcha em Paris, no dia 30 de novembro. Uma iniciativa que intervém num contexto de multiplicação dos ataques e declarações racistas na França.
“Parem, Já chega!”. Com esse grito, as organizações sindicais, associativas e partidárias francesas tentaram mostrar a sua oposição ao crescente clima de racismo no território francês. A decisão de fazer uma marcha foi tomada no dia 28, para mostrar a reação da sociedade civil contra os ataques que sofreu a Ministra da Justiça, Christine Taubira. A Ministra, negra, foi o alvo de protestos, xingamentos e matérias racistas durante as últimas semanas.
Em Angers, (região oeste a 300km de Paris) enquanto visitava um tribunal, a ministra foi injuriada por um grupo de oponentes ao casamento gay, medida para a qual Christiane Taubira foi a principal defensora. No grupo, uma menina de apenas 10 anos, ergueu uma banana e gritou : “Para quem é a banana ? é para a macaca!”.
Dias depois, uma candidata nas eleições municipais da Frente Nacional, partido de extrema direita, publicou uma fotografia no seu perfil facebook comparando Christine Taubira a um chimpanzé. Mais recentemente, uma revista semanal de extrema direita, Minute, fez da Ministra a sua matéria de capa cujo título fazia claramente referência a comparação entre a política e os primatas.
Segundo Thomas Guénolé, cientista político, a explicação destes ataques é simples : “Christiane Taubira é alvo porque ela é negra e é a favor do casamento gay. Estes dois elementos explicam o ódio que tem as duas famílias da extrema direita francesa, a extremista e a tradicionalista”.
Ao organizar essa marcha, os movimentos sociais querem “denunciar não somente estes xingamentos como toda a onda de racismo na França”, explica Vincent Reberioux, presidente da Liga dos Direitos Humanos. Estima-se que cerca de 25 mil pessoas participaram da mobilização apenas em Paris, enquanto outras 80 cidades francesas tiveram demonstrações de apoio.
O ato de rua anti-racista relembrou a “Marcha para a Igualdade e Contra o Racismo” que comemora o seu 30° aniversário este ano. Naquela época, 32 jovens, na maioria árabe, iniciaram em Marselha uma marcha para denunciar o racismo. Eles chegaram mais de 100 mil em Paris.
*Gauthier Berthélemy é jornalista, reside em Lyon, na França, e é colaborador da REVER