O Cinema com “C” maiúsculo tem se prestado ao exercício de liberdade latente no usufruto do corpo com insistência comovente.
Por Rian Santos*
Homem com homem não pode, vira lobisomem. Todo mundo aprende logo cedo, ainda criancinha. Esta não é, contudo, a primeira verdade confrontada pela eclosão do indivíduo nas sociedades modernas. Com um pouco de sorte, também não será a última.
A experiência física do amor, a vivência doméstica dos afetos e a manifestação pública do desejo respondem cada vez mais alto, em tom quase desaforado, à caretice dos modelos sociais em voga nos dias de hoje. E o Cinema com “C” maiúsculo tem se prestado ao exercício de liberdade latente no usufruto do corpo – cabeça, tronco, membros e um monte de nervos – com insistência comovente.
Aqui, as considerações estéticas suscitadas pelo trabalho mais recente do cineasta Karim Aïnouz (“Madame Satã” e “O céu de Suelly”) são o que menos importam. “Praia do Futuro” (2014) mordeu um músculo inflamado na sensibilidade de uns e outros. Perfeitamente natural, não fosse a reação do exibidor que, numa rima involuntária, terminou por reafirmar o comportamento neandertal dos enrustidos. A emenda foi pior do que o soneto.
Explica-se. O filme em questão possui algumas cenas de sexo, a exemplo de tantos outros. Estas, no entanto, são protagonizadas por dois homens. Teria sido suficiente para um grupo de jovens agredir o gerente do Cinemark do Shopping Jardins, resolvendo as competências do Dr Freud no braço. O episódio ganhou volume de boato nas redes sociais. Este jornalista tentou uma confirmação em contato telefônico com a loja, mas não obteve sucesso. O fato é que, de uma hora pra outra, sem mais nem menos, a bilheteria do cinema passou a fazer uma advertência verbal a respeito do conteúdo escandaloso do filme, antecipando o constrangimento. Só faltou carimbar uma estrela amarela no ingresso, afinal de contas os gays são todos depravados.
Enquanto o Cinemark não se explica publicamente, talvez seja o caso de alertar os desavisados: Homens e mulheres se pegam a torto e direito. Desde que o mundo é mundo. A três, a quatro, aos caralhos.
Um adendo: A censura do filme é apenas 14 anos.
*Rian Santos é jornalista
Isso ai,Rian gostei!