“O Rap é o elemento da periferia, a periferia precisa dessa visibilidade”
*por Lua Nascimento
No último sábado, dia 11/11, aconteceu o “III Encontro Das Quebradas”, evento organizado pela Família Bocas Secas, localizado na comunidade do São Conrado, na zona Sul da Cidade, com o intuito de trazer o lazer para a quebrada e dar visibilidade ao Hip Hop Sergipano.
De início, é de arrepiar todos os olhares que se fazem presentes no Encontro. As pessoas te recebem e te consideram como uma verdadeira família. O que não é muito distante num evento como esse, juntando moradores de zonas diferentes, fazendo a história de cada uma delas se fortalecerem num elo só, concentrando a voz do outro em si e o desabafo numa forma de luta, coletividade e Rap.
Um dos organizadores, Saulo Beatmaker (Família Bocas Secas), me disse: “Sensação sinistra fazer isso acontecer junto dos meus companheiros mesmo com todas as dificuldades”. Ele conta também que os organizadores conseguiram a estrutura completa um dia antes do evento.
E para além de vozes Sergipanas, o evento contou com a participação de Moob (DDH) e Beirando Teto, vindo do estado da Bahia, realizando uma apresentação juntos, na qual nos deixaram com a rima e letra marcante na mente, seguindo adiante e levando também o reconhecimento do espaço cultural da zona Sul de Aracaju.
O Encontro também fortaleceu a união, fazendo com que o antigo integrante do grupo RAR (Realidade Através das Rimas), fizesse uma participação especial na apresentação, reacendendo no palco a paz entre os envolvidos com várias pedradas musicais diante da galera que vibrou com o acontecido.
“Pra perdoar você tem que ser três vezes mais forte. E o Rap faz isso”. Com muita emoção em ter visto e feito parte do ocorrido entre RAR, disse Saulo Beatmaker.
A voz do Público e dos Artistas
Costumo ouvir primeiro dos organizadores o que é esse evento para eles, o que representa e o que querem passar ao público. E dessa vez, além de ouvi-los, tive a oportunidade e a iniciativa grandiosa de sentir e também ouvir o que a galera tinha a dizer sobre o lll Encontro Das Quebradas.
Emily, uma entre os demais incentivadores do espaço, desabafa: “Refúgio, né? Evento pra se libertar, a maioria dos eventos é pagode, e quando tem Rap é difícil, a galera acha que o rap não é cultura… mas é! E como é”.
Progredindo nesse sentido cultural, mas também ativista, o Encontro teve a participação das “Guerrilheiras”, grupo de Rap Feminino, com letras sempre pesadas, tocando na ferida aberta sobre ser mulher diariamente e nas demais violências contra todas nós.
Deixando o recado bem dado que o lugar da mulher também é no Hip Hop e que seguimos ocupando todos os outro espaços heteronormativos e de exclusividade masculina.
E falando em lutas, desafiando o sistema opressor e a sociedade conservadora, manipulada pelas mídias capitalistas sobre as nossas ações, em todos os Encontro Das Quebradas, evento esse de resistência, é de se notar artistas com pautas como a legalização da maconha, extermínio da população negra, precariedade das periferias, violência policial e a invisibilidade de todas as outras minorias.
E acredite, o Encontro consegue nos passar tudo isso.
Como Kian Lemos (Entre Becos) reforça: ” O Rap é o elemento da periferia, a periferia precisa dessa visibilidade. E completa: “São histórias relatadas em cima de um beat.”
Estando aberto para mais relatos reais, dentro de um lava-jato ocupado, com a expectativa do “IV Encontro Das Quebradas” para o mês que vem, a Família Bocas Secas se sente muito alegre e confiante sobre os próximos passos e independente de todos os empecilhos que estão a enfrentar.
E não muito diferente de “Paz pra todas as quebradas”, frase vinda deles, os mesmos complementam e terminam a noite:
“Que a paz seja e continue sendo as maiores das revoluções.”
*Lua Nascimento é midiativista